sábado, 1 de agosto de 2015

32º Festivale - Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha


Feliz, emocionado e acolhido pela comunidade de Salto da Divisa do baixo Vale Jequitinhonha, 6859 habitantes, no simbolo da resistência de MG: 32a. edição do Festival do Vale (itinerante q tece em cada edição a memoria da região e semeia consciência da riqueza cultural em uma região de muitas dificuldades econômicas).
As águas do rio Jequitinhonha consagradoras da unidade nacional com todas as bacias hidrograficas do Brasil tem rima com o São Francisco e fez com q a primeira ocupação de habitantes ocorresse em 1808. Em abril de 1840, o povoado de Salto Grande foi elevado á categoria de distrito de paz, subordinado a Minas Novas, com o nome de São Sebastião de Salto Grande.
O Salto, hj, é uma retrato na parede como a do terra sentimental do poeta Drummond. Uma represa nivelou as águas. E o salto recolheu-se engolido pelo tal progresso com grande impacto sobre a população e a paisagem. Mas a cultura popular em seus valores de integridade e expressão seguram a identidade no tempo.
Patrimônio Imaterial riquíssimo, Salto da Divisa, como tantas expressões da diversidade brasileira tem "traduções" e "sotaques" específicos de inumeras manifestações recorrentes em outras regioes do Brasil. A conversa foi extremamente participativa com a comunidade muito mobilizada.
Os cordões de Salto apresentam diferenças e proximidades com outras formas de cortejo conhecidas. Os cordões de caboclos começaram em 1950 e reúnem dois grupos: o vermelho Tupinambás e o verde Guaranis. Uma batida misturada entre candombe-cabocolinho-samba chula-cururu e outras variações. Usam adereços e mão em flechas, arcos e lanças e fantasias de palha adaptadas livremente sob caricaturas que remetem a povos indígenas, geralmente traduzidas em pendões de flechas, mini-cocares (feito guirlandas). Marcam muito os bairros a que pertencem seus integrantes: os Tupinambás de Mestre Carrim, p.ex., são chamados "pés vermelhos" pelo barro da cidade alta.
O outro cordão é o de Espada, também dos anos 50, se liga mais a memória da escravidão e tem um mastro como seu símbolo (tradição coordenada por Dona Lindaura Vacelina das Flores). da matriz africana destaca-se o grupo Ilê Axé nascido em uma forte casa de candomblé fundada pela família de João d Ogum, a qual continuou com o fiIho Valentino de Oxóssi e, agora, desde 1985 segue com seu filho Lazaro.
O Boi Duro de Seu Luís chegou a Salto vindo da cidade de Itapebi, foi trazido por Sebastião Brito, seguiu com Orlindo. E atualmente é tocado pelo "seu". Luis de 76 anos.que dedes adolescente aprendeu as manhas dos personagens "vaqueiro" e do Caçador". O Boi é acompanhado pelos personagens pai-da-mata, maria manteiga, loba, o caçador, a neguinha maluca e o vaqueiro.
Há ainda um Reisado (tb trazido por Sebastião Brito) com apresentações realizadas em janeiro, para festejar o dia de Reis e de São Sebastião (padroeiro de Salto). E dona Lindaura do Cordão de Espada lidera a festa. Mais recentes, anos 80, o cordao Tupinambás criou o Boi Duro do Ipê e em 2007 nasce o boi duro da Cansação onde predominam adolescentes do bairro Cansação. Percebe-se o forte envolvimento de crianças e jovens nos desfiles. O que abre um ótimo potencial de trabalho tanto para a Educação Patrimonial qto identificação de praticas e expressões de bens culturais do patrimonio imaterial (os livros dos saberes, celebrações, formas de expressão, lugares etc).
Foi a primeira visita oficial de um grupo do Ministério da Cultura, na presença da Cidadania e Diversidade e IphanGovBr pelo Departamento do Patrimônio Imaterial. Confirma-se a emergência de uma política, realmente nacional, via o poder público nos municípios: as demandas de Salto, mobilizadas principalmente pela sensibilidade do prefeito Ronaldo (que além de mecanismos de fomento quer legislação, programas de formação continuada e circuitos para trocar experiencias na interligação das áreas de Cultura e Meio Ambiente (inseparáveis da Educação). Sentem as urgências para despoluir as águas do Jequitinhonha q abençoa a vida e irriga o entusiasmo de uma cultura feita pela base, na veia, via da própria vida.
E o Festivale, não pode parar. As próximas edições precisam estar garantidas por dotação orçamentária fixa em calendario oficial (e que se integre aos demais Festivais Populares do Brasil como o de Chã de Camará na Zona da Mata Norte de PE de Afonso. Presente lá em Salto o querido Pereira da Viola (quilombola q é na raiz) confirmava mais uma vez o quanto uma arte sem artifício se faz mais plena qdo dialoga com o seu meio (não só por pesquisa intelectual).
Texto: Vanderlei Dos Santos Catalão

Fotografias: Barcellar Chaves





























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