Feliz, emocionado e acolhido pela comunidade de Salto da
Divisa do baixo Vale Jequitinhonha, 6859 habitantes, no simbolo da resistência
de MG: 32a. edição do Festival do Vale (itinerante q tece em cada edição a
memoria da região e semeia consciência da riqueza cultural em uma região de
muitas dificuldades econômicas).
As águas do rio Jequitinhonha consagradoras da unidade
nacional com todas as bacias hidrograficas do Brasil tem rima com o São
Francisco e fez com q a primeira ocupação de habitantes ocorresse em 1808. Em
abril de 1840, o povoado de Salto Grande foi elevado á categoria de distrito de
paz, subordinado a Minas Novas, com o nome de São Sebastião de Salto Grande.
O Salto, hj, é uma retrato na parede como a do terra
sentimental do poeta Drummond. Uma represa nivelou as águas. E o salto
recolheu-se engolido pelo tal progresso com grande impacto sobre a população e
a paisagem. Mas a cultura popular em seus valores de integridade e expressão
seguram a identidade no tempo.
Patrimônio Imaterial riquíssimo, Salto da Divisa, como
tantas expressões da diversidade brasileira tem "traduções" e
"sotaques" específicos de inumeras manifestações recorrentes em
outras regioes do Brasil. A conversa foi extremamente participativa com a
comunidade muito mobilizada.
Os cordões de Salto apresentam diferenças e proximidades com
outras formas de cortejo conhecidas. Os cordões de caboclos começaram em 1950 e
reúnem dois grupos: o vermelho Tupinambás e o verde Guaranis. Uma batida
misturada entre candombe-cabocolinho-samba chula-cururu e outras variações.
Usam adereços e mão em flechas, arcos e lanças e fantasias de palha adaptadas
livremente sob caricaturas que remetem a povos indígenas, geralmente traduzidas
em pendões de flechas, mini-cocares (feito guirlandas). Marcam muito os bairros
a que pertencem seus integrantes: os Tupinambás de Mestre Carrim, p.ex., são
chamados "pés vermelhos" pelo barro da cidade alta.
O outro cordão é o de Espada, também dos anos 50, se liga
mais a memória da escravidão e tem um mastro como seu símbolo (tradição
coordenada por Dona Lindaura Vacelina das Flores). da matriz africana
destaca-se o grupo Ilê Axé nascido em uma forte casa de candomblé fundada pela
família de João d Ogum, a qual continuou com o fiIho Valentino de Oxóssi e,
agora, desde 1985 segue com seu filho Lazaro.
O Boi Duro de Seu Luís chegou a Salto vindo da cidade de
Itapebi, foi trazido por Sebastião Brito, seguiu com Orlindo. E atualmente é
tocado pelo "seu". Luis de 76 anos.que dedes adolescente aprendeu as
manhas dos personagens "vaqueiro" e do Caçador". O Boi é
acompanhado pelos personagens pai-da-mata, maria manteiga, loba, o caçador, a
neguinha maluca e o vaqueiro.
Há ainda um Reisado (tb trazido por Sebastião Brito) com
apresentações realizadas em janeiro, para festejar o dia de Reis e de São
Sebastião (padroeiro de Salto). E dona Lindaura do Cordão de Espada lidera a
festa. Mais recentes, anos 80, o cordao Tupinambás criou o Boi Duro do Ipê e em
2007 nasce o boi duro da Cansação onde predominam adolescentes do bairro Cansação.
Percebe-se o forte envolvimento de crianças e jovens nos desfiles. O que abre
um ótimo potencial de trabalho tanto para a Educação Patrimonial qto
identificação de praticas e expressões de bens culturais do patrimonio
imaterial (os livros dos saberes, celebrações, formas de expressão, lugares
etc).
Foi a primeira visita oficial de um grupo do Ministério da
Cultura, na presença da Cidadania e Diversidade e IphanGovBr pelo Departamento
do Patrimônio Imaterial. Confirma-se a emergência de uma política, realmente
nacional, via o poder público nos municípios: as demandas de Salto, mobilizadas
principalmente pela sensibilidade do prefeito Ronaldo (que além de mecanismos
de fomento quer legislação, programas de formação continuada e circuitos para
trocar experiencias na interligação das áreas de Cultura e Meio Ambiente
(inseparáveis da Educação). Sentem as urgências para despoluir as águas do
Jequitinhonha q abençoa a vida e irriga o entusiasmo de uma cultura feita pela
base, na veia, via da própria vida.
E o Festivale, não pode parar. As próximas edições precisam
estar garantidas por dotação orçamentária fixa em calendario oficial (e que se
integre aos demais Festivais Populares do Brasil como o de Chã de Camará na
Zona da Mata Norte de PE de Afonso. Presente lá em Salto o querido Pereira da
Viola (quilombola q é na raiz) confirmava mais uma vez o quanto uma arte sem
artifício se faz mais plena qdo dialoga com o seu meio (não só por pesquisa
intelectual).
Texto: Vanderlei Dos Santos Catalão
Fotografias: Barcellar Chaves
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